Com a queda da Cortina de Ferro em 1991 não vieram apenas implicações políticas, econômicas e sociais - também deixou-se para trás um distinto estilo arquitetônico. Essa arquitetura, sob o regime soviético, era um sistema que se baseava em metas quantificáveis, como o Plano de Cinco Anos. Essas cotas forçaram os arquitetos a avaliar os projetos de construção em termos de custos materiais e humanos, número de unidades, volume de mão-de-obra qualificada e não-especializada e assim por diante. Como resultado, nos países soviéticos a arquitetura se tornou uma mercadoria industrial, um reflexo do poder e inovação tecnológica e, em última instância, um grupo profissional e um campo disciplinar trabalhando a serviço de uma mesma visão.
Todavia, o estilo agora chamado de modernismo soviético apresentava algumas diversidades regionais. A arquitetura construída nos países bálticos, por exemplo, fora concebida para promover o turismo naqueles lugares, ao passo que a produção arquitetônica de países como Uzbequistão e Geórgia carregava mais visivelmente o zeitgeist soviético, refletido em edifícios brutalistas que fazem lembrar narrativas de ficção científica.
Kiev, capital da Ucrânia, não ficou isenta da influência soviética e apresenta ainda hoje uma série de marcos modernistas que pontuam seu horizonte. Mas na medida em que a cidade cresceu nas últimas décadas, muitos desses ícones da era soviética estão caíram em descaso e desuso - alguns dos quais já foram inclusive demolidos para dar lugar a novos empreendimentos imobiliários. Entre a crescente lista de edifícios em risco estão o Instituto de Informação Científica, Técnica e Econômica da Ucrânia e a Biblioteca Científica e Técnica do Estado - esta última já conta com um grande shopping center contemporâneo construído ao seu lado.
Os autores de um livro sobre os edifícios mais ameaçados do país lançaram o curta-metragem Soviet Modernism, Brutalism, Post-Modernism: Buildings and Projects in Ukraine from 1960 – 1990, que homenageia os grandes edifícios da Ucrânia. No filme, as dramáticas vozes do autor apresentam e defendem várias estruturas icônicas e por que elas ainda são importantes para a vida cotidiana. Esses edifícios são frequentemente negligenciados, não protegidos por sociedades históricas e raramente são mencionados em textos acadêmicos. Embora a história em torno de muitos locais soviéticos seja um tópico inerentemente polarizador, os edifícios de Kiev exemplificam como a herança da União Soviética está lentamente desaparecendo e por que ela precisa ser preservada.
Cita: Overstreet, Kaley. "Curta-metragem celebra o brutalismo soviético da Ucrânia" [Celebrate Ukraine's Soviet Brutalist Architecture with this New Short Film] 29 Jul 2018. ArchDaily Brasil. (Trad. Baratto, Romullo) Acessado . <https://www.archdaily.com.br/br/898802/curta-metragem-celebra-o-brutalismo-sovietico-da-ucrania> ISSN 0719-8906